Eventualmente acontece de me contorcer internamente os sentimentos, como uma lagarta, quando a gente cutuca. Os cabelos da nuca ficam arrepiados, mas não há muito o que se possa fazer, esperar a tempestade passar, por falta de opção, é o melhor remédio.
Laranja Mecânica passa na TV aqui ao lado.
Eventualmente me sinto uma bexiga laranja, com uma bomba relógio dentro. Os olhos arregalados, sem conseguir mexer a cabeça para os lados, sem respirar um ar que não seja cheio de fuligem dos carros.
Aí penso na terrinha natal, na casa da vovó, onde sempre há uma mesa de café posta, onde se pode olhar pela janela da sala e ver até a catedral, e o céu azul, olhar pro chão e ver a chácara, com seus mamões e roseiras e hortas e jabuticabeiras e todo o tipo de flores e aromas e cores, talhados pela chuva (God is in the rain), reino das plantas que brotavam no meio da terra cheirosa.
Penso também na casa da minha mãe, no alto do 19º andar de uma cidade vizinha. Penso toda hora desejando um abraço e um cafuné. Acordar pela manhã com cheiro de pão de queijo, mamãe me esperando para tomar o café, falar sobre alguma banalidade ou porcaria sem nexo.
Minha lagarta interior se retorce, em várias e várias voltas, resolve morder o próprio rabo, morder as duas pontas da vida, diria Bentinho. Quero voltar no tempo eventualmente, rever as sinestesias.
Tenho meu querido também ao meu lado. Não agora, nem sempre dá pra ser 100% do tempo, mas não, not alone at all aqui. Ele me dá suporte, sorrisos e abraços. Ampara nas horas difíceis, liga toda noite para avisar que chegou. Faz tanto tempo que quero o cheiro dele só aqui, mas ele tem a casa dele, afinal...
Há também o pequeno Bobbio, que faz questão de mostrar alegrias e carinhos, pulando em volta dos meus pés. Bolinha de pêlos saltitante e caramelo. Orelhas caídas e barriga branca.. as pequenas alegrias do dia...
48x16 Recorrência - parte 1
Há 5 meses