Como o mar em ressaca.
Tantas tantas patadas recebidas, nas quais você ficou tantas e tantas vezes, por tanto tanto tempo sem chão, sem ter onde se pendurar, nada..
No final só se encontra perguntando, num estado quase catatônico, pra que, raios, pra que tudo isso? Me esforcei, tô aqui por completo, dando o meu melhor.. e esses ataques todos, socos no estômago, essas... traições alternativas.
Então, simplesmente, resolvi não ligar mais, não avisar quando ia pegar ônibus, não avisar quando chegasse, não dizer um "boa noite, meu amor, estou com saudade de você". Não falar mais nada pra você. Nunca. Saudades? Tenho, tenho sim. Muita. Demais. Eu te amo, lembra? Mas não é desse seu você. De qualquer jeito, esse outro você não ia se importar mesmo.. a mim parece que não se importou, de qualquer forma.
É esse seu silêncio, essa sua concordância imediata com tudo o que não deveria ser, é o que mais me mata, percebe? Não, não percebe. Dentro da solidão estridente das nossas distâncias, tudo está lá, tudo o que não deveria existir, principalmente esse espaço. Esse silêncio que você faz questão de cavar.
Luto por nós contra você, já percebeu? E nesse momento, justamente, é quando mais te odeio. E não deveria te odiar. Mas te odeio. Entende? Por quê? Sei lá. Deve ser porque você está assim, e eu desejo de todo o meu coração, a cada segundo, que você volte a ser o que era, porque um dia você voltou a ser, e eu chorei, te abracei, implorei dentro de mim com tanta força, ainda imploro, pra que aquele momento nunca, nunca mais acabasse, que o tempo parasse, que você.. você, meu menino.. porque sabia que essa "volta" em algum segundo iria acabar, que iria voltar a conviver com esse outro "você", que tem a mesma cara, o mesmo cheiro, o mesmo jeito de falar e se mexer, mas não é você. Simplesmente porque não é. Não adianta, nunca vai me convencer.
E você também não quer voltar a ser o de antes, não quer. E assim você vira nosso pior inimigo, quando fala todas aquelas coisas. Coisas que fazem as mensagens escritas no nosso diário, guardadas no meu celular, nas frases que você me escreveu, nossos momentos, tudo cair por terra. Tudo desaba. O "Nós" vai se desfazendo, pouco a pouco. Eu também. Você joga tudo pela janela. Desde quando você ficou assim? Quase creio que tudo o que restou de você, realmente, ficou guardado aqui, dentro de mim, me abraçando enquanto eu choro. O moletom com o seu perfume, eu correndo na chuva, você preocupado que eu pegasse gripe, a primeira vez que disse que me amava, as tardes na praça... tantas, tantas lembranças preciosas que não quero corromper de jeito nenhum, com medo de fazer 'você' desaparecer. Você sumir, desaparecer pra sempre.. e eu achar que amei alguém que nunca existiu.
E por isso me dói tanto te ver assim.
E é nessas horas em que mais te odeio. Porque eu te amo. Sempre.
E essa foi a maneira que encontrei de te dizer tudo o que não consigo te falar, com o medo que tenho.
48x16 Recorrência - parte 1
Há 5 meses
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