Dois rios

- Você está bem?

- Ótima! Por que?

- Porque você está ouvindo essas músicas... esta aí principalmente..

- E o que tem?

- Você só ouve quando não está bem.

- Ahhhnnn...

- E aí?

- Oi?

- Você tá bem?

- Sim.

- Aí, ó.

- Que?

- Tá monossilábica.

- Hahaha.

- Tá fingindo.

- Como?

- Que tá bem.

- Por que raios faria isso?

- Porque você não gosta de mostrar esse lado.

- Por que?

- Acha que não valhe a pena.

- ...

- Acertei.

- Não disse nada.

- Nem precisa. É quando não diz que dá pra saber.

- Mas e daí? Quem se importa?

- Eu me importo.

- Mentira. Todo mundo mente, você não é exceção.

- Certeza?

- Pode ser.

- Sabia.

- O que?

- Você está triste. E sabe que não minto pra você. E não adianta virar pro lado, de mim você não é capaz de fugir.

- Por que?

- Porque você é uma lagarta. Listrada. Com ares de ameixa.

- Não isso..

- Por que o quê?

- Por que que dói?

- Porque você não é stoneheart, nem insensível nem nada, pelo contrário: você.. é você.

- Quisera não o ser.

- Preferia ser o que?

- Uma pedra na estrada, quem sabe. Ou uma janela, num muro de tijolinho à vista, com uma flor pendurada do lado.

- E a vista seria pra onde?

- Pro mar, sempre.

- Um sorriso...

- Oi?

- Você sorriu.

- Ah, sim, é...

- Ficou vermelhinha... hahaha... que bonitinha...

- Não fala assim..

- Por que?

- Vai me fazer chorar.

- Ah... desculpa.. te fiz lembrar...

- ...

- Respira fundo.

- ...

- Pronto?

- Pronto. Passou.

- Que bom.

- Por que?

- O que? Por que é bom que passou?

- Por que sou uma lagarta (listrada), e, por isso, não posso fugir de você?

- Porque você e eu somos a mesma pessoa. Lembra?

- Ah, verdade, tinha esquecido. Mas..

- O que?

- Se me divido tanto assim, era mais prático ser uma planária...

- Mas quem sabe um dia você vira borboleta...








E assim ela ficou ouvindo e repetindo várias e várias vezes a mesma música, enquanto pensava no mar...