quarta-feira, abril 09, 2008

C'est moi

Me perdi aqui na noite, de divagações e cervejas e violões e saraus e cantarolações de chico buarque (hoje o saaammmmmba saiiiuuuu, laiálaiáááá) [aliás chico em italiano é engraçado]........

Estava triste.

Tristeza repentina não se dá pra controlar assim, não é? Parece que é mais forte.

Estava bem, até que conversei com um amigo da faculdade. Seria amigo mesmo ou só conhecido? Que seja, nunca consegui diferenciar muito bem as coisas, mas gosto dele, é um bom menino.
É bom menino até porque eu percebo o quanto sou pessoa ego (ista, cêntrica..) perto dele. Não que possivelmente eu seja uma bola de fungos nojenta e ele um Jesus Cristo da vida, nada disso.

É que, inevitavelmente, quando você conversa sobre certos assuntos com as pessoas, você conhece um pouco delas (isso embora eu não seje tão recomendável assim no trato pessoal.. já que nunca vou conhecer as pessoas elas mesmas e, bom, elas se aproveitam disso, mas, que seja, tenho fé nelas). Queria falar como essa conversa com esse amigo me fez sair da minha redominha protetora... talvez não tenha saído de todo, mas - tenho fé - já coloquei o pé pra fora... mas nem sempre é tão fácil falar das coisas alheias assim.

Sei que - e isto me dá raiva - tenho uma consciência política de uma barata. Que lá em casa não fomos educados para ter consciência política, entender as maracutaias e politicagens, lutar ferrenhamente por nossos direitos e os dos outros, só fomos educados para ser, como diria?, pessoas boas: a gente ajuda os outros, a gente não rouba, a gente é educado, usamos escapulário e (oh!) até rezamos (esporadicamente)..!!
Mas eu me esforço, sou (uma + 10 da chapa) diretora do centro acadêmico, faço os crafts, informo as pessoas, vou em reuniões, presto ateção nas discussões... mas tudo sempre parece distante demais, quando não se tem um conhecimento ou uma vivência da coisa. Ler que duzentas pessoas morreram num atentado terrorista, num choque contra a pm, numa greve de fome, não rola... não me impressiona, já fomos calejados pra encarar isto como algo normal, não pensamos que foram irmãos, pais, mães, filhas, avós, que morreram naquele atentado, só pensamos em números. Impessoalizamos as pessoas.
Aí é que está a grande sacada: comecei a sair da redoma, estou começando o processo de pessoalização dos números, que na verdade são pessoas.
Falar com este meu amigo, que me falou das perspectiva de estudantes de escolas públicas, das suas faltas de esperanças em fazer uma faculdade.. começou a me fragilizar.

Fiquei feliz que ele foi uma exceção, de querer fazer uma faculdade, de perceber toda uma diferença, suas visões do mundo e perspectiva... para então me falar que entrou ali e percebeu um sistema que não liga, que quer se manter assim.

Depois que ele desceu do ônibus, lembrei de uma mulher (uma vez que viajei de ônibus pra casa), que conversava com a amiga ao lado... segundo ela "bando de burros, se todos os pobres resolvessem fazer faculdade, quem assentaria os tijolos, limparia as ruas... etc?"

Tenho profunda esperança de que seja alguém com mais visão do que ela.
Alguém com perspectivas, quem sabe. Cada um faz o que ama.

Tenho profunda esperança que as coisas mudem, mas não por si só: eu quero participar da mudança, ajudar a mudar. Me encantaria muito saber que pude fazer, não um mundo, não um país..... apenas... um lugar, quem sabe?, um lugar melhor de se viver, dar aos meus filhos a parcela da minha não-passividade de um modo positivo, um legado de alguma coisa que não seja decadência.


Fora isso, sou uma idiota.

2 comentários:

Anônimo disse...

a questão é: como?

Unknown disse...

pode ser pretensão (ou ilusão) minha, mas, pelos seus últimos posts, é incrível o seu amadurecimento... tenho minhas especulações, mas isto, como diria um professor meu, é assunto para "lá fora... numa mesa de bar". não tratarei sobre o mérito de seu post, mas queria dizer: excelente!