Azul, porque é escrito com caneta, e as frases de caneta não se pode apagar. Mesmo que você use um errorex, não é como um lápis, que você esquece o que tinha lá. Vai ficar sempre a marca do branquinho, como uma cicatriz. Por mais que você não goste dela, vai estar sempre ali.
Pequenas feridinhas, pequenos erros de caneta, mas que vão se acumulando, acumulando... uns você passa por cima, a correção não ficou tão mal assim. Outros, você prefere nem olhar, uma linha inteira de corretor líquido não foi o suficiente pra fazer apagar, porque você sabe que está ali, vai ficar sempre ali aquela marca no papel, em você. Aquele sinal, aquele erro, vai te perseguir sempre que você abrir naquela página. Mais hora menos hora você vai ter que abrir o caderno, não me engane, não adianta fugir, está lá. Mesmo que eu nem saiba mais o que é, está lá, pra provar... provar... que você também erra.
Sim sim.. você erra. Você erra, você corrige, você erra, você faz, você erra, você isso, você aquilo... você erra.
Quanto tempo durará o errorex?
E não adianta dizer que irá jogar o caderno no lixo. Que dane-se o papel com as frases de caneta, vai pra reciclagem que é mais negócio. Não, não, você sabe que não vai ser assim. Porque as frases azuis sempre vão estar ali, na sua cabeça, por mais que você tente ignorar, estarão ali, você vai fugir, vai enlouquecer, vai errar...
No final, a folha foi amassada. Olhou, arremessou, cesta! Você vira as costas e sai andando. Um papel afinal, que mal fará? Todos os males do mundo poderá fazer, mas nã um papel, principalmente mas, com tantas frases azuis... você não acha estranho? É que elas fazem parte de você agora, e sempre fizeram, mas só afloraram agora. Nisso se baseia tudo. Por mais que fuja, jamais esquecerá das frases azuis, todas as conjugações à caneta e riscos que dela saíram. Ficarão em você, como cicatrizes. Porque você virou as costas, quis fugir porque não aceitou. Não aceitou ser como é. Quis se esconder de si mesmo, se apagar... e você errou, afinal.
Um comentário:
Gostei muito desse seu texto. A metalinguagem ou metatexto é um tema muito interessante e revelador (ao menos de uma máscara de quem escreve). A gente, vasculhando as metáforas e outras imagens, vai compondo um fragmento de mosaico do outro. Em tudo, não não resta muito da adolescente que um dia já foi e para quem dei aula. Há uma tensão mais madura, uma escrita mais trabalhada.
Como sou da 'velha guarda', gostei também do caderno e da caneta (algo como dizer que escreve numa velha máquina remington e não num pc de última geração).
Recaída gramatical: O 'QUE' é uma palavra atrativa: dizemos 'Que se dane...'. Beijão e até.
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