sábado, setembro 06, 2008

Relatório: Arquitetura da Destruição, de Peter Cohen


(destinado à matéria "Introdução à Museologia", mas que vai aqui, porque eu achei bonito. Porque sim.)






[na imagem ao lado, um africano judeu trajado de americano/inglês - símbolos das culturas degeneradas]




Possuindo como tema o nazismo, o documentário desenvolve-se numa análise pormenorizada do regime totalitarista em questão como ideologia subjugada aos conceitos estéticos de Adolf Hitler, seu expoente máximo.

Partindo dos gostos pessoais do indivíduo Adolf Hitler e sua idolatria pelo compositor Wagner – do qual absorveu a política, o anti-semitismo, crenças numa raça pura, culto pelo legado nórdico e a noção de arte como base para a união e o surgimento de novas nações –, o documentário desemboca nas ações políticas do ditador Adolf Hitler e suas conseqüências estético-políticas numa Alemanha onde o nazismo se manifestava como garantia tanto de uma reconstrução sócio-econômica e moral do país (que sofria com as seqüelas oriundas da I Guerra), como do nascimento de uma cultura puramente – no sentido mais amplo da palavra – alemã.

O diálogo entre o filme em questão e o conceito de museu em si se encontra na subentendida ambição megalomaníaca do ditador em transformar não só o país num foco de cultura (com princípios estéticos neoclássicos e antimodernistas, diga-se de passagem) como todo o Estado num museu vivo.

Orientados pelo filme através do conceito de uma raça alemã una, sem diferenças, descobre-se o princípio de purificação social a partir de um ideal estético que excluía os doentes mentais, deformados, bolchevistas, raças miscigenadas, judeus e, obviamente, seus descendentes.

Neste contexto a arte moderna era tida como Arte Degenerada, na qual se manifestavam sinais semelhantes aos de doentes mentais, esta arte era a expressão onde perversão artística e degeneração física encontrariam-se correlacionadas. Partindo do âmbito de deformidades físicas, a intenção do Führer era liquidar todas as doenças do povo alemão (entendendo-se aí também o sentido ambíguo do contexto), queria moldar o homem de modo a torná-lo o exemplo da mais pura seleção: defendia (em termos aproximados) que o primeiro conceito de beleza era a saúde, e ela se fazia necessária para que a raça alemã não sucumbisse ao fenômeno da degeneração, "tão típica dos tempos modernos". Dentro deste universo deturpado, como responsáveis pelo acervo humano do povo germânico “de fato”, os médicos passaram a ser peritos em estética e serviam não para os indivíduos, mas sim para o povo ariano, curando doenças de seres inferiores que ameaçavam a nova raça em construção.


Nos planos do nazismo, o Estado alemão era vislumbrado como o detentor de projetos monumentais de construções em si; a intenção de Hitler era "museonizar" as cidades germânicas e transformá-las em obras de arte ao mesmo tempo: virariam museus por abrigarem as obras de arte – considerando-se aí tanto as produções humanas quanto a própria nova raça – e seriam obras de arte no sentido de que, em seu planejamento arquitetônico, previa-se o futuro da obra – "Princípios das Ruínas", onde os edifícios importantes seriam construídos de forma que, num futuro distante, desmoronariam formando ruínas pitorescas – quanto pelo estilo de construção faraônico carregado de signos e ornamentos – em Linz, um Arco do Triunfo duas vezes maior do que havia em Paris – que por si só são obras de arte.

Convém analisar também que, de certa forma, a concepção de um museu histórico e de seu acervo, é semelhante à que se encontrava também no Estado alemão e em seu povo: o ditador comparava a batalha alemã com a luta de Roma contra Cartago; sua fixação na Antigüidade influenciava suas estratégias de guerra (a proibição do bombardeamento de Atenas, por exemplo) e seus objetivos (como nas Guerras Púnicas, na destruição de Cartago, o objetivo era acabar com a razão de ser do inimigo através da destruição das cidades e das pessoas); e, sobretudo, a crença na queda da Alemanha – enfraquecida pelas baixas na guerra e o extermínio de judeus – como um grandioso evento que inspiraria futuras gerações.



Por fim, a partir da análise, o documentário classifica o nazismo não com o conceito de regime um político, mas como um ideal deturpado de embelezamento do mundo através da violência em múltiplas áreas. Seja através da condenação de tudo o que não atendesse aos conceitos de arte do Führer, seja por meio dos assassinatos em massa de civis inocentes.




[Hitler e seu arquiteto, Albert Speer, em Paris]

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